sábado, 28 de junho de 2014

Dá uma guinada com a cabeça pra ver se você esbarra a vista em mim, assim, em mais uma tentativa de fazer as coisas estalarem na sua cabeça e você entender tudo, tudo, tudo o que eu queria que você entendesse e visse e me dissesse e me pegasse pela mão e me levasse pra algum lugar que não fosse frio, mas agora eu já tô aqui nessa merda de vida vazia, esperando sabe-se Deus lá o quê de você e ainda assim, esperando. Eu sempre espero mesmo, espero com alguma coisa que já nem é mais esperança, alguma coisa que não é essa música que tá tocando aí – e que me lembra você –, alguma coisa que não são esses carros e essas pessoas me olhando sentada no meio de uma vista pro mar esperando. Tem ninguém à vista e eu tô aqui esperando você só me dar uma olhada certeira e fazer todo o resto. Eu nem exijo muito, eu acho, nem exijo que você mude meu mundo de cabeça pra baixo nem nada do tipo, eu nem exijo que você faça tudo numa ordem correta, mas, por favor, me leva pra casa porque já tá doendo demais ficar aqui com os lábios rachados por conta desse vento frio.
Me deixa numa distância de quarteirão lá de casa e não se preocupa que eu vou andando. Se você não vai vir atrás de mim, então não precisa me deixar na porta porque eu sei que não vai ter despedida e isso vai doer mais do que os meus lábios rachados. Não vai ter aquele beijo terno nem aquela coisa de me avisa quando chegar em casa que eu quero saber se você chegou bem e eu vou ficar olhando pro whatsapp na esperança de algum daqueles balões conter o seu nome, nem vai adiantar se não for você porque eu vou passar os olhos e só isso. Ler eu só leio você mesmo. Leio esses livros que sei que você gostaria de ler, e achei que o último deles ia ter um final feliz, mas o cara foi lá e matou todo mundo como uma forma de se redimir e se matou no final e você disse que o livro era presente pra mim porque eu tinha gostado bastante e eu morri junto dele, sabe? Morri porque você nem fez questão de voltar aqui pra pegar o livro de volta nem pra me olhar de verdade nem pra me mandar tirar a roupa e fazer sabe-se lá o quê com você e eu tava esperando mesmo era pela manhã seguinte em que eu não ia precisar olhar no whatsapp e teria o seu primeiro bom dia pra não doer mais. Nem isso aqui dentro sufocando nem o meu lábio rachado pelo vento porque teria você e teria saliva e não teria mais vento porque você teria me levado pra casa e tava tudo bem.
Deixa pra lá que eu vou pra casa sem ninguém. Acho que você perdeu a hora e eu perdi o tempo porque eu espero e espero e espero faz tantos carros e tanta chuvae tanta gente e tanta música que me lembra você e tanto vento que os meus lábios tão doendo quase como tá doendo aqui dentro.  Já passou da meia noite e eu acho melhor eu chamar um táxi porque não vai dar pra aguentar muito se você chegar aqui com alguém, não vai dar pra disfarçar, não vai dar pra gritar ou pra checar se os seus olhos tão embaçados porque você nunca me enxerga aqui, nem vai dar pra reclamar ou pra pedir pra me deixar a um quarteirão de casa porque eu preciso pensar. E tá tocando essa música e eu realmente só queria ir pra casa sem precisar imaginar os porquês de você nunca vir e nunca me ouvir e nunca me ver e nunca, nunca mesmo sentar do meu lado, se despedir, me desejar boa noite, me acordar com um bom dia no whatsapp e, quem sabe um dia, você pudesse me levar pra casa!
Se você se esquecer de pagar a conta de luz e a gente tiver que se enxergar no escuro, com dois pares de olhos de gato, desacostumados a andar no breu, eu viveria de tato.Passaria as mãos até reconhecer os seus detalhes, mapeando o seu corpo em braile como se eu já soubesse ler cada palavrinha do que ele diz pra mim. Mesmo que no fim do dia não tenha nada pra gente comer na geladeira e eu tenha me atrasado, prometido ligar e desligado, ter furado com você na porta do cinema por causa do trânsito e arrancado as suas plantas do vaso pela entrada brusca com o carro, eu juro que vou tentar não gritar alto.
Mesmo você falando alto e atrapalhando o som das coisas que você ouve, esbravejando contra o seu jeito insistente de me dizer coisas que eu não sei ouvir, enrolando o tempo todo pra levar o lixo pra fora ou pra dizer que te amo, eu dormiria aqui. Na sala mesmo, pra te dar uns momentos de paz a sós e perceber que tu faz falta. Que a gente cai nessa roda viva do dia a dia e se esquece de que ficou porque ama, porque sabia que ia ser assim, mas fere. Fere o outro porque é costume de toda essa gente ferir quem se ama. É porque a gente não trava a língua com quem ama – pra bem e pra mal. E eu não travo nada, mas deveria. Deveria segurar as coisas, contar até dez e me lembrar que pra todo estresse do dia, pra todo problema que surge, pra tudo de ruim que der na telha ou nas infiltrações, a gente tá junto.
Mesmo que a gente bata as portas com violência e diga umas besteiras-adagas, feitas pra machucar e arranhar a pele do outro, eu te juro que não iria embora. A gente daria meia-volta quando chegasse ao térreo ou pararia o carro na entrada da garagem esperando a outra gritar pra ficar (e mesmo sem grito voltaria pedindo desculpas). Mesmo que algo parecesse acabar e cavar um buraco entre a gente repelindo cada um prum lado, fazendo com que você não quisesse mais ouvir minha voz ou dormir comigo, tirando a graça das minhas piadas e trazendo bolsas pros meus olhos, eu ficaria. Mesmo que a gente trabalhe até tarde, durma fora alguns dias por causa das viagens, esqueça a comida dos gatos, deixe a torneira ligada e inunde o nosso andar inteiro, mesmo que tudo pareça dar errado e a gente chegue num ponto em que não se suporte mais, eu vou lembrar do exato momento em que pus os olhos em você.
Mesmo com a falta, com a toalha molhada, com a tampa do vaso levantada, com os berros, as crises, a TPM, meus amigos idiotas, suas amigas idiotas, , a TV fora do ar, a internet que não pega tem 40 dias, o contrato atrasado do apartamento, a falta de atenção ou o prato na pia, a calcinha pendurada no chuveiro, as nossas manias irritantes e as escovas de dentes trocadas, mesmo que falte papel higiênico no banheiro e todas essas coisas que dão vontade de desistir da gente, eu não poderia. E mesmo que você me expulsasse, me pusesse pra fora de mala, cuia e sem cobertor, eu te beijaria e voltaria pra dormir do seu lado, apagar a luz e te buscar no tato, desse meu modo nada romântico, ultrapassado e ogrodoce de dizer que eu ainda vou te amar – mesmo com tudo isso – amanhã de manhã!

sábado, 7 de junho de 2014

... mesmo que eu pisque os olhos na velocidade exata que me indicam as revistas e me revire de cabeça pra baixo pra tentar caber no seu avesso... você não nota! A gente troca duas ou três palavras... eu puxo assunto... tento levar adiante o papo manjado sobre os gatos... só pra falar que eu tenho 2 sem vergonhas e bonito q vc adoraria conhecer! Você até responde.... liga duas ou três vezes... bate um papo legal da exposição enquanto eu fico sonhando q vc me beija... depois você vai embora e só muda de nome.... cor de cabelo.... o jeito de virar os olhos... só muda.... mesma personagem quando eu queria que mudasse o roteiro todo da peça....
É engraçado isso porque eu me esforço! Me encaixo ali direitinho no que parece ser seu dossiê e ainda aplico umas técnicas elaboradas que aprendi uma vez num programa tailandês que serve pra trazer um amor em menos de três dias! (brincadeira nunca vi esse programa mas deveria)
Mas... mais eficiente que mandinga.... eu nem preciso aprender a jogar búzios.... é tudo na força de pensamento... tá dizendo a menina com um sotaque engraçado que eu encontrei no Ibirapuera dia desses! Tento me encaixar em vc já que a nossa compatibilidade no zodíaco escorpianico é alta... a gente tem uns 30 amigos em comum no Facebook e eu até gosto da mesma cor que você.... Fico ali tentando entrar... não sei se você veste P ou M.... mas eu consigo ser grande ou pequena o suficiente pra caber no teu tamanho!
E você não é só uma.... nem 2... 3... seria demais.... mas a conta já passou disso! Você é tudo que me olhou nos olhos... pediu desculpa sem dizer uma palavra.... disse que não ia funcionar e me rejeitou da primeira vez.... É todo mundo que já embrulhou umas tristezas no pacote e deixou lá no quarto pra eu levantar com a sensação de que o mundo tava desabando e que eu tava fazendo tudo errado outra vez. Ia passar... sempre passa... bola pra frente... conheci alguém... só mais um... mas vai passar também! O que não passa nunca é a culpa que eu prego na sala como se fosse um Picasso pra enfeitar minhas lembranças doloridas!
Tava vendo no Discovery que a memória afetiva (quase) nunca falha. Ela registra tudo: de sabores a odores adocicados... de primeira música ao perfume que usava pra sair à noite.... da mania de enxugar as mãos duas vezes ao descaso com que mexia no cabelo! Ela associa ações e situações a pessoas e isso faz com que algumas coisas noks lembrem bem de alguém justamente por termos vivido algo marcante com aquela pessoa! É isso que a gente chama de recordação... geralmente! Nesse sentido – e falo de forma leiga aqui – a lógica seria clara: a gente não guardaria recordação nenhuma de quem nunca passou pela nossa vida! Mas não é assim que acontece... né?!
Além de guardar recordações... tirar da geladeira pro microondas  e viver de emoção requentada... eu também me alimento de culpa. Por que eu não consegui te fazer ficar da primeira vez.... mesmo nos moldes... mesmo no tamanho... mesmo que se você quisesse era só avisar que eu tentava me trocar na loja! Me culpo porque você não me achou interessante... não me achou bonita...  talvez eu estivesse um pouco gorda... eu teria que te agradar em mais o quê? A culpa é minha por não ser seu tipo ou por ser e mesmo assim você não me querer.... o que é ainda pior! Pior porque só prova que eu fiz algo de errado pra não atender as tuas expectativas.... que eu te frustrei no meio do caminho... que eu não segui a receita pra te conquistar direitinho... deveria ter começado na segunda-feira! Culpa minha... óbvio... e bem feito que eu me sinta destruída sempre que você vai embora e... e... e se eu não pudesse fazer nada?! Porque tem umas coisas que fogem do nosso controle e talvez essa seja uma delas!
Talvez não importasse o quanto eu me dedicasse... o quanto eu quisesse casar com teus gostos... o quanto eu queria que desse aquele match esperto na vida real.... porque isso não depende de mim!
Na verdade... pensando melhor... nada depende exclusivamente da gente! A gente pode tentar oferecer pro outro o nosso mundo e torcer pra que ela queira ficar se a gente se encantar pelo dela também!

Não tem manual... dieta de segunda-feira... programa tailandês ou mandinga que traga amor! Essas coisas são tão imprevisíveis quanto a conta do meu cartão de crédito no fim do mês. Mas o processo normal é sentir culpa por não ter sido o amor de alguém... por não ter inspirado o amor de alguém... e isso se torna um ciclo de auto-negação tão grande que nem cabe nesse texto!
Culpa vai sendo mastigada... embolora no estômago... se torna martírio e quando for ver... a gente tá por aí achando que não é bom o suficiente pra ninguém só porque entendeu tudo errado nessa coisa de paixão... pessoas... expectativas.... e sentimentos!

Amor não é ciência exata que a gente garante de olhos fechados que 2 + 2 = 4.... não tem como “caber” em alguém... não tem como seguir todas as regras pra garantir o sucesso da rota! Isso só gera frustração!
Não foi minha culpa da  primeira vez.... nem culpa do meu corpo.... nem culpa da minha personalidade se a menina da quinta séria não quis me dar a mão no recreio! Se o carinha mais velho do colegial preferia ruivas e meu cabelo não mudou nada! Se o alemão não gostava muito de sueca e eu só sabia jogar isso!
Então.... pensando cá com as minhas cores.... cheguei à conclusão de que eu não podia fazer nada e não tinha nada a ser feito.... mas e da segunda vez?!
Um segundo encontro... novas expectativas... novas realidade.... te amo ainda mais.....