domingo, 27 de março de 2016

... em relação ao amor.... hoje... sou menos iludida... mas também muito mais criteriosa!
Não que eu tenha desistido deste sentimento... mas aquela empolgação juvenil e até inocente já não existe mais.
O X da questão é que já vivi situações o suficiente para perceber que relacionamento amoroso não envolve só sentimento. Envolve diferenças... envolve família... envolve vizinho... cachorro... gato e papagaio....
Dois deixam de ser dois e passam a ser um número incontável de gente... torcendo por sua felicidade ou não!
Envolve paciência... pressão... frustração... desconfiança....
Claro que envolve também coisas maravilhosas... como vida compartilhada... companheirismo... afeto... amor... confiança... sexo...
Eu me lembro muito bem quando eu tinha 15 anos e sonhava em namorar... achava que era o melhor que me poderia acontecer na época... mas não aconteceu…
Fiquei frustrada... mas fui levando!
Quando eu finalmente tive um relacionamento mais profundo posso dizer que a vida me deu um tapa na cara!
Namorar não era nada daquilo que eu criava fantasiosamente! Não fiquei amarga ou desesperançosa...
Fiquei realista!
Hoje... após alguns relacionamentos profundos e  depois dos meus mais de 30 primaveras ... vejo o quanto ser solteira representa liberdade e aprendizado pra mim! Não tenho medo de ficar sozinha em casa em pleno sábado à noite! Não tenho medo de ir a eventos sociais sem uma pessoa a tiracolo!
Eu construí a vida com os meus passos... um atrás do outro... aos trancos e barrancos.... mas hoje eu sou eu! Janna! Quem entrar na minha vida não será o protagonista pois a protagonista já existe! Quem entrar na minha vida se tornará referência e não a coordenada....
A recíproca, é claro, é verdadeira.
A questão é que as frustrações me ensinaram a me amar mais... a valorizar mais meus momentos comigo mesma...
Estar feliz e solteira me ensinou a ser mais exigente! E alguém para adentrar no meu mundo tem que fazer por merecer...
Se ficar com joguinho... se ficar com palavras fartas e atitudes vazias eu... simplesmente... perco o interesse...
Eu gosto tanto de escrever... eu gosto tanto de estar e conversar comigo mesma que não dá pra trocar isso aqui por um “Oi... gata” ou pior: “Oi... sumida” sendo que sumida eu nunca fui!
Não dá para trocar assistir Sleepy Hoolow ou Originais.... na Netflix por uma conversa superficial ou sem afinidades.
Só vai entrar na minha vida quem realmente merecer!
Porque vida é mais íntimo que quarto... vida é mais íntimo que cama... as pessoas costumam relacionar intimidade com sexualidade... mas intimidade é sonho... é medo... é esperança... é falar do passado... da infância... é planejar um futuro... é olhar juntos para a mesma direção!
Intimidade requer tempo... requer dedicação... requer interesse profundo....
Intimidade é oposto de superficialidade...
Intimidade não é saber a cor da calcinha ou do sutiã...
Intimidade é saber a cor dos sonhos... a cor dos olhos quando choram... a forma exata dos lábios quando sorriem...
Intimidade não é ver alguém de lingerie… isso você pode ver a qualquer momento... com alguém que você conhece há muitos anos ou há poucas horas...
Intimidade não é ver alguém se despir das roupas...
Intimidade é ver alguém se despir das barreiras... dos medos... das suas verdades incontestáveis... das suas certezas absolutas...
Intimidade é a entrega... mas não a entrega do corpo....
Intimidade é a entrega mais difícil... a entrega da alma e do coração!

sexta-feira, 11 de março de 2016

ser mulher

Nasci há tantos anos que realmente não me lembro mais a contagem de quantos tempo estou por aqui. Nasci tabelada de fábrica... fadada a cumprir com todas as minhas obrigações que as pessoas à minha volta queriam me impor. Nasci em meus vestidos rosa... meu cabelo escovado e cheio de lacinhos... nasci uma princesa... uma futura rainha.
Mas a verdade é que nunca me passou pela cabeça fazer parte da realeza. Nunca quis só brincar com “coisas de meninas” ou deixar de subir na árvore na praça perto de casa. Minhas barbies eram todas superpoderosas e nunca precisaram de um Ken para ajudar a história delas a ficar mais interessante. Sorte a destas bonecas, que não ganhavam olhares tortos todas as vezes que elas admitiam que preferiam aprender a lutar jiu jitsu do que esperar um príncipe encantado no cavalo branco que pudesse lhe salvar de todos os perigos do mundo.
Nasci mulher e... só por este fato... aguentei ... e venho aguentando! ...olhares insinuantes quando ando pela rua, mesmo que eu esteja com uma calça moletom velha e manchada. Já disse o quanto me sinto vulnerável quando preciso ficar em pé na muvuca do ônibus? E não... o medo não é de levarem minha bolsa embora. Eu tenho receio de quem se acha no direito de encostar em mim... pavor de quem acredita poder olhar pelo decote da minha blusa e achar que tudo bem se posicionar estrategicamente por trás do meu corpo.
Já disse como tenho medo de voltar para casa sozinha a noite e como é insuportável sempre que estar acompanhada de um cara para que ninguém se atreva a mexer comigo? Eu nasci mulher para não conseguir ter minha própria liberdade de andar por onde eu quiser e a hora que eu quiser? Eu nasci mulher para ter que depender de alguém mais forte fisicamente do que eu durante toda minha vida?
Quando nasci não me disseram que eu teria que provar por aí que eu sei dirigir ou administrar uma fábrica... só porque algum idiota disse que essas coisas são para homens. Ninguém me disse que eu estudaria muito... muito mesmo... e teria que aguentar piadinhas que insinuassem que... se eu fosse muito inteligente... ficaria “para a titia”. Ninguém me disse que eu faria a mesma coisa que o meu colega ao lado no trabalho... ficaria o mesmo tempo que ele no expediente... mas teria que me conformar em ganhar menos.
Nasci mulher e parece que isso me tornou obrigada a aprender a cozinhar... a costurar... a passar e lavar a roupa e a dobrar lençóis com elástico. A verdade é que eu mal sei fritar um ovo e não faço ideia como as pessoas conseguem dobrar aqueles malditos lençóis. Eu não nasci para ficar a vida toda dentro de casa vendo meus anos passarem e, mesmo se fosse o que eu quisesse, nunca quis que isso fosse uma consequência de uma vida que não escolhi.
Eu não nasci para ser apenas um órgão reprodutor que só estará totalmente realizada quando tiver um filho. Eu até quero sim ter filhos... mas se amanhã ou depois eu mudar de ideia... não quero que as pessoas fiquem me olhando como se eu fosse uma pobre coitada. Porque eu não sou! Eu quero ser conhecida pela história que eu construí e não pelas notas que meus filhos irão tirar na escola. E para completar,... eu não nasci para abrir mão do meu prazer em prol de ninguém e... assim... eu espero que... quem estiver comigo... me faça ir à lua e voltar tantas vezes forem necessárias.
Mas... por mais que eu quisesse me ver longe de arrependimentos... confesso que... pelo menos isto... eu não consegui! Me arrependo de todas as vezes que engoli a seco algumas ofensas que levei nos últimos anos. Me arrependo de todas as vezes que já me senti horrível por não ter o corpo da mulher da capa da revista. Me arrependo de não ter achado que meu cabelo era bonito o suficiente para que eu pudesse sair na rua com eles molhados. Me arrependo de nunca ter respondido à altura quando me falavam que eu não estava agindo como uma menina de família. Me arrependo de já ter chorado escondido quando a pessoa em que eu confiava havia contado todos meus segredos para a escola inteira e todo mundo achou que a errada era eu.
Me arrependo quando virei a cara para outra mulher que estava me julgando só por causa do tamanho da minha tatuagem. Me arrependo de ter deixado de usar meu batom vermelho por algum tempo depois que me disseram que aquilo era cara de puta. Me arrependo de não ter tido coragem antes de enfrentar todos os meus medos e todos os pré-conceitos que encaro todos os dias só pelo fato de ter nascido mulher.
Sim, eu nasci mulher! E apesar de tudo... apesar de ainda ter um grande chão pela frente... apesar de ainda ver uma longa estrada pela frente até que eu possa... finalmente.. ser livre de verdade para ser qualquer coisa que eu queira, apesar de tudo isso, eu não nasceria de outra maneira.
Eu sou mulher! E de frágil... meu amor... eu não tenho... e nem nunca tive... absolutamente nada!